terça-feira, 15 de julho de 2014

3xQS: O autocarro de Terça.

Entrei no autocarro e meti conversa contigo, sem vergonha e com uma auto-estima digna do meu bronzeado. Após 5 dedos de conversa e de intensos olhares dispersos, os meus olhos finalmente pararam e tinham-se fixado em algo: na tua língua, aquela parte estranha do teu corpo que raspava levemente nos teus dentes enquanto soletravas letra por letra, aquela tua parte acerejada que entrava no apogeu quando, depois de uma série de frases expelidas, lambia ordenadamente o lábio superior e em seguida o teu inferior, para uma nova dose de parágrafos raspados nos dentes. Pedi-te o contacto, e entre a momentânea hesitação e o teu sorriso maroto, eu pressentia, pressentia que tinhas engraçado comigo logo à meia vista e que suspiravas em vivenciar o meu corpo tanto como eu queria dominar e entender-te através das montanhas e planícies do teu. Arrancaste então o meu telemóvel do meu bolso, como se já nos conhecessemos há uma eternidade, como se tivéssemos nascidos anexados um a outro e como se desde sempre te fosse permitido meter os teus dedos no meu bolso, no bolso daquelas calças bourdeaux que nunca nenhuma rapariga se tinha atrevido a ir lá. Controlaste o meu telemóvel, tudo isso de uma forma em que, se algum ser humano presenciasse esse instante, diria que já nos relacionávamos antes, pensaria que seria costume da tua parte servires-te dele como alarme nas noites em que dormias comigo, e mesmo que nada disso se tivesse passado nesta vida, então teria-se sucedido, sem alguma sombra de dúvida, noutra qualquer. Desbloqueas-te-o, sincronicamente em que mordias os teus lábios carnudos com cabelos teus metidos pelo meio. Introduziste o número. Bolas, como me sabias seduzir. Vestias o meu top preferido, e mesmo sabendo que aquela era a primeira vez que te via, sabia também que todos os top que tinhas, desde que deixassem vislumbrar parte do teu umbigo, eram automaticamente os meus favoritos. Acordei. Estava incrédulo, tudo não passara de um sonho. Que puta-que-a-pariu, não tu, mas toda a situação. Era manhã de terça-feira e tinha tido o sonho mais real até à data. Fiz então um esforço para adormecer novamente, é que, apesar de ser manhã de terça-feira, era o dia da minha folga. Fechei os olhos. Adormeci. Entrei no autocarro e meti conversa contigo, sem vergonha e com uma auto-estima digna do meu bronzeado. Estava então preparado, pronto para passar a folga ao teu lado, eu e tu, naquela terça de verão.
  
007 B.P.
(3xQS= Quem Quer Que Sejas)

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