sábado, 19 de julho de 2014

3xQS: Agora não, por favor.

Se vieres, não venhas hoje. Se vieres por favor peço-te, não me apareças à frente. Tenho esperado por ti desde do momento em que o meu coração se sentiu desamarrado e agora fartei-me, terminou a tolerância. Não te quero ver agora, não quero esses nossos encontros longilíneos apaixonadamente entediantes e os esses linguados nocturnos sexualmente nojentos de salas de cinema vazias. Não quero sentir a tua palma da mão aprimoradamente suada enquanto conduzo, muito menos o-teu-encostar-da-cabeça-no-meu-peito irritantemente divino quando ocupamos o último assento do autocarro. Não venhas ter comigo, não quero sentir esse cheiro viciantemente repugnante e esse desejo intratavelmente efeitiçado, esse hálito puro a café sem princípio. Hoje não, muito menos amanhã, nem no mês seguinte. Não quero amargar alegremente por ti sem necessidade ou razão, não me quero dissolver nos teus braços magistrais desconfortáveis e deitar-me na tua cama irreprovavelmente deslavada enquanto te digo que a minha inútil vida não vale uma ponta de um chavo sem ter esse corpo curvilíneo celestiamente seboso ao meu lado. Não quero esbanjar palavras especiais contigo e perder-me juntamente nessas curvas delicadamente desorganizadas, não vales isso. Metes-me nojo, não te exibas. Sim, isso mesmo, metes-me nojo por saborear tanto da tua fisionomia ao ponto dessa merda divina ser incessantemente aquilo que sonhei desvairar. Enjoas-me, porque sempre que tento falar mal de ti, as palavras cedem e tumultuam a sua própria semântica, alteram-se ao ponto do teu simples magnífico decote obsceno e esse teu tique de treta formoso de trincares o piercing da língua tornarem-se perfeitos, mesmo em frases asquero-virtuosas como tu. Como te odeio enamoradamente de uma forma louca. E por isso tenta compreender por favor, tenho planos, não apareças, não agora, senão irei ceder violentamente por ti.



007 B.P.


3XQS (Quem Quer Que Sejas)

terça-feira, 15 de julho de 2014

3xQS: O autocarro de Terça.

Entrei no autocarro e meti conversa contigo, sem vergonha e com uma auto-estima digna do meu bronzeado. Após 5 dedos de conversa e de intensos olhares dispersos, os meus olhos finalmente pararam e tinham-se fixado em algo: na tua língua, aquela parte estranha do teu corpo que raspava levemente nos teus dentes enquanto soletravas letra por letra, aquela tua parte acerejada que entrava no apogeu quando, depois de uma série de frases expelidas, lambia ordenadamente o lábio superior e em seguida o teu inferior, para uma nova dose de parágrafos raspados nos dentes. Pedi-te o contacto, e entre a momentânea hesitação e o teu sorriso maroto, eu pressentia, pressentia que tinhas engraçado comigo logo à meia vista e que suspiravas em vivenciar o meu corpo tanto como eu queria dominar e entender-te através das montanhas e planícies do teu. Arrancaste então o meu telemóvel do meu bolso, como se já nos conhecessemos há uma eternidade, como se tivéssemos nascidos anexados um a outro e como se desde sempre te fosse permitido meter os teus dedos no meu bolso, no bolso daquelas calças bourdeaux que nunca nenhuma rapariga se tinha atrevido a ir lá. Controlaste o meu telemóvel, tudo isso de uma forma em que, se algum ser humano presenciasse esse instante, diria que já nos relacionávamos antes, pensaria que seria costume da tua parte servires-te dele como alarme nas noites em que dormias comigo, e mesmo que nada disso se tivesse passado nesta vida, então teria-se sucedido, sem alguma sombra de dúvida, noutra qualquer. Desbloqueas-te-o, sincronicamente em que mordias os teus lábios carnudos com cabelos teus metidos pelo meio. Introduziste o número. Bolas, como me sabias seduzir. Vestias o meu top preferido, e mesmo sabendo que aquela era a primeira vez que te via, sabia também que todos os top que tinhas, desde que deixassem vislumbrar parte do teu umbigo, eram automaticamente os meus favoritos. Acordei. Estava incrédulo, tudo não passara de um sonho. Que puta-que-a-pariu, não tu, mas toda a situação. Era manhã de terça-feira e tinha tido o sonho mais real até à data. Fiz então um esforço para adormecer novamente, é que, apesar de ser manhã de terça-feira, era o dia da minha folga. Fechei os olhos. Adormeci. Entrei no autocarro e meti conversa contigo, sem vergonha e com uma auto-estima digna do meu bronzeado. Estava então preparado, pronto para passar a folga ao teu lado, eu e tu, naquela terça de verão.
  
007 B.P.
(3xQS= Quem Quer Que Sejas)

quarta-feira, 2 de julho de 2014

3xQS: Tu e as Outras.

Ela, a manhã de segunda-feira, era terrível e insuportável, mas causava em mim uma sensação enigmática, uma espécie de amor-ódio, é que tanto num minuto não a tolerava como no momento exactamente a seguir a cobiçava por mais manhãs como ela. Porque eu sabia, sabia que na verdade quanto mais manhãs dessas tivesse, mais tempo significava que iria viver. 


Mesmo assim existia uma agigantada carência, só viver para mim já não chegava, queria mais. Ela, a manhã de segunda-feira, apesar dos seus trinta graus, deixava-me gelado, com o meu coração arrepiado em busca daquele olhar no oco da rotina diária de Lisboa. Pois bem, Ela, a manhã de segunda-feira, estava prestes a ser trocada e não, não era por outra manhã qualquer, era por algo extraordinariamente maior. Ela, a outra, era o despertar, o amanhecer, o recordar, o anoitecer, o deitar, ela era é o avivar, o cálido e álgido, era o andar, o apimentado e o insípido, Ela era o inalar, Ela era o novo viver, e tudo isso de uma forma amiúde. Ela, a outra, deixava-me completo e por muito paradoxal que pareça, não só a fazia desejar ainda mais, como coincidentemente acabava por querer que chegasse, juntamente com Ela, a outra, a manhã de segunda-feira. E aí apercebi-me, apercebi-me de que com Ela, a outra, tudo fazia sentido, com Ela tudo se tornava possível, até mm ter as outras, as manhãs de segunda-feira. Com Ela, a única, a minha vida mudou, como tb as outras, as insuportáveis manhãs de segunda-feira, para melhor.

 

007 B.P.

(3xQS= Quem Quer Que Sejas)