Ela, a
manhã de segunda-feira, era terrível e insuportável, mas causava em mim uma
sensação enigmática, uma espécie de amor-ódio, é que tanto num minuto não a
tolerava como no momento exactamente a seguir a cobiçava por mais manhãs como
ela. Porque eu sabia, sabia que na verdade quanto mais manhãs dessas tivesse,
mais tempo significava que iria viver.
Mesmo
assim existia uma agigantada carência, só viver para mim já não chegava, queria
mais. Ela, a manhã de segunda-feira, apesar dos seus trinta graus, deixava-me
gelado, com o meu coração arrepiado em busca daquele olhar no oco da rotina
diária de Lisboa. Pois bem, Ela, a manhã de segunda-feira, estava prestes a ser
trocada e não, não era por outra manhã qualquer, era por algo
extraordinariamente maior. Ela, a outra, era o despertar, o amanhecer, o
recordar, o anoitecer, o deitar, ela era é o avivar, o cálido e álgido, era o
andar, o apimentado e o insípido, Ela era o inalar, Ela era o novo viver, e
tudo isso de uma forma amiúde. Ela, a outra, deixava-me completo e por muito
paradoxal que pareça, não só a fazia desejar ainda mais, como coincidentemente
acabava por querer que chegasse, juntamente com Ela, a outra, a manhã de
segunda-feira. E aí apercebi-me, apercebi-me de que com Ela, a outra, tudo
fazia sentido, com Ela tudo se tornava possível, até mm ter as outras, as
manhãs de segunda-feira. Com Ela, a única, a minha vida mudou, como tb as
outras, as insuportáveis manhãs de segunda-feira, para melhor.
007 B.P.
(3xQS= Quem Quer Que Sejas)