segunda-feira, 31 de março de 2014

3xQS: A tua Voz.

A tua voz será o meu alimento, a tua arma branca que sangra sedução, será o meu aconchego, a minha tranquilidade. Sempre que te ouvir serei devorado, Sempre que soletrares uma só palavra a minha alma irá morder-se levemente, tudo porque cada sopro teu irá devorá-la sincopadamente. A tua gargalhada será como um beijar enrolado nos lençóis e o som do teu sorriso tal e qual como uma manhã solarenga de sábado, o teu ruído do choro soará dolorosamente profundo e o teu respirar indespensavelmente apaixonante. A tua voz tornar-se-á na minha descoberta, no encontro com as tuas cicatrizes, no esbarrar com os teus arrependimentos e na constatação das tuas angústias. A tua voz irá colidir com a minha imaginação e modificá-la de tal modo que, independentemente de como estejas e como sejas ao vivo, serás sempre a mais bela e, ao meu ouvido, o meu maior e inesquecível vício.

A tua voz será o começo, a semente que, juntamente com a água do nosso primeiro beijo, nos fará nascer de novo para a vida.



007 B.P.

(3xQS= Quem Quer Que Sejas)

3xQS: Doritos

9h30, uma manhã trivial, e lá estava eu na paragem de autocarro habitual à hora nada menos que ordinária. 
9h30, uma manhã corriqueira, em que o meu pensamento centrava-se exclusivamente na quantidade de pessoas que teria amontoadas à volta durante a minha curta viagem até Alcântara. 
9h31, um minuto depois tudo parecia permanecer idêntico, quando mesmo em cima dessa mesma e vulgar paragem estaciona uma carrinha enorme da Lays.
9h32, o homem sai apressado pela porta do condutor, abre a detrás e mete três pacotes de Doritos na mão e aí ...aí toda a estabilidade secante daquela manhã desvanece-se. 

Merda, porquê Doritos

O mundo fez de propósito, só pode. O mundo quis que eu te recordasse, planeando a melhor estratégia para eu que pensasse em ti mesmo quando o achasse que seria improvável. Eu sentia, ele estava a gozar com a minha cara através da inserção daqueles banais sacos de fritos naquele momento insignificante e rotineiro. O mundo naquele instante espancava-me emocionalmente e simultaneamente ria-se gritando-me "Vais mesmo continuar chateado com ela?"

O mundo sabe. O mundo sabia que, estando assim contigo, por detrás de cada minha gargalhada oca o meu coração sangrava. O mundo sabe, o mundo sabia que nesta parte da minha vida tu és a causa da minha higiene mental, que és a minha razão para tudo, a razão com razão do explicável a razão sem razão do impossível.

O mundo não é parvo, muito menos cego e por isso via, via que tu eras a minha fé, não aquela fé representada através da veemência das palavras, mas a fé das obras, das minhas atitudes do dia-a-dia, aquela transmitida pela capacidade de lutar contra tudo e todos a que ela se oponham.

Será então que vale a pena lutar contra o mundo? 

Como te odeio mundo e como odeio a tua altivez e o teu olhar naqueles meus momentos de desilusão, em que te viras para mim afirmando: "Eu bem te avisei". E sei que por vezes podes parecer injusto, mas na realidade não existe algo nem alguém mais injusto que o ser humano, não existe nada mais injusto e mais anormal como o tempo que permanecemos amuados e irritados com as pessoas que mais amamos, aquelas que nós não vivemos sem, mas que ao mesmo tempo somos capazes de estarmos calados e incontactáveis caso haja uma desavença.

E por isso, mundo, só quero que me dês mais oportunidade, e eu prometo-te, sendo ela a minha fé, e mesmo tirando-me por vezes a paciência, de modo nenhum irei recusar o compromisso que assumi com ela, o acordo de a fazer perpétuamente feliz.


007 B.P.

(3xQS= Quem Quer Que Sejas)