terça-feira, 4 de junho de 2013

Vale mesmo a pena viver junto antes do casamento?

Se há algo que mudou ao longo das últimas décadas foram as regras a respeito do casamento e da co-habitação e essas alterações são observáveis em contexto clínico. Os casais mais jovens raramente optam pelo casamento sem que haja um período de co-habitação prévio; os casais mais antigos referem quase sempre que uma decisão como esta estava fora do seu alcance devido às normas sociais vigentes na altura em que se conheceram. De facto, há 30 ou 40 anos era praticamente impensável que uma rapariga pudesse sair de casa dos pais para viver com o namorado.

Hoje mais de metade dos casais optam pela co-habitação e desses só uma parte é que oficializa a relação, pelo que importa olhar para as diferenças destes dois formatos. Antes de mais, a generalidade dos casais aponta razões de ordem prática na altura de avançar para a co-habitação: pagar a renda de uma casa é mais barato do que suportar duas rendas; limpar e arrumar um só apartamento é menos pesado. Por outro lado, a maior parte destes casais também reconhece que a co-habitação pode servir para avaliar até que ponto conseguem adaptar-se à vida a dois, para se prepararem para o casamento ou para testar se é realmente com aquela pessoa que vão querer passar o resto da vida. Mas ao contrário do que são as expectativas dos jovens casais, o facto de duas pessoas viverem juntas antes de casar pode não ser sinónimo de aprendizagem e muito menos de garantia de felicidade.

Nalguns casos há diferenças significativas entre as expectativas com que cada um dos membros do casal parte para a co-habitação, o que pode determinar os níveis de satisfação conjugal. Por exemplo, é relativamente comum deparar-me com casais que, estando a viver juntos há alguns anos, enfrentam divergências em relação à oficialização da relação – um quer casar, enquanto o outro prefere manter a união de facto. Ora, de um modo geral, os casais que vivem juntos sem planos para casar mostram-se mais insatisfeitos com a sua relação conjugal do que os casados. No entanto, as pessoas que vivem juntas e que alimentam o sonho de casar apresentam níveis de satisfação conjugal semelhantes aos das pessoas casadas.

No que diz respeito à probabilidade de separação também existem diferenças significativas entre estes dois grupos: a probabilidade de ruptura no primeiro ano de vida em comum é oito vezes maior entre os casais que optam por viver juntos em vez de casar; no segundo ano a probabilidade é quatro vezes maior; e no terceiro ano é três vezes maior.

Um estudo recente veio mostrar que se uma pessoa já viveu com vários parceiros amorosos a probabilidade de vir a casar é menor do que se a experiência de co-habitação apenas foi partilhada com um companheiro. Mais: quando alguém que já viveu em união de facto várias vezes decide casar, a probabilidade de divórcio é muito alta (mais do dobro do que entre as pessoas que só viveram juntas com um parceiro).



5 comentários:

  1. Não era preciso fazer nenhum estudo para chegar a estas conclusões estatísticas. É completamente expectável que os números fossem estes. Se a opção por viver junto é tida como uma escolha consciente pelas pessoas feita com o intuito de experimentar a compatibilidade do casal, então é normal que no primeiro ano haja mais separações do que no segundo, e no segundo do que no terceiro, etc. e que essa probabilidade seja maior do que no casamento! É óbvio! O que é que isso prova?( De notar que juridicamente um divórcio é mais difícil do que uma separação de uma união de facto; julgo que isso foi tido em conta)
    Mais, uma vez que o casamento hoje é apenas uma opção entre outras para uma relação, é natural que as pessoas que optam por casar sejam diferentes das que optam por não casar. A mim parece-me mais credível seja a insatisfação "conjugal" que cause a falte de planos para casar do que a falta de planos para casar que cause a infelicidade a dois! E acho que se perguntarmos à maioria das pessoas (e já agora, à maioria dos psicólogos), elas acharão o mesmo. Esta psicóloga parece correr o risco de inverter o sentido da causa-efeito! Erro comum nas ciência sociais e humanas. É possível defender as uniões de facto, recorrendo exactamente às mesmas estatísticas!
    Mas a maior pérola é esta: "quando alguém que já viveu em união de facto várias vezes decide casar, a probabilidade de divórcio é muito alta (mais do dobro do que entre as pessoas que só viveram juntas com um parceiro)."
    Não era preciso um estudo para suspeitar de tal. Tal como alguém que que tenha tido vários acidentes de carro tem maior probabilidade de ter novo acidente de carro, possivelmente por ser mau condutor, ou outra razão qq. Alías, como bem sabem as seguradoras...

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  2. Caríssimo Anónimo

    Eu não quero provar nada, só venho constatar factos. E por muitos óbvios que sejam para si, não significa que será assim para as outras pessoas. De resto, acho que o melhor (e óbvio) que deveria ter feito, era já que não concorda com isto, mostrar factos/benefícios (óbvios) do contrario, ao invés de vir desvalorizar tudo o que está escrito baseando-se em juízos de valor seus.

    Cumprimentos

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  3. Penso que o primeiro comentador concorda com a maior parte das conclusões (tanto que as acha óbvias). De facto a mim não me parece nada surpreendente que numa relação mais fácil de terminar haja de facto mais terminações do que numa mais difícil.

    O que há para discordar de facto é a direção das associações causais (a infelicidade causa falta de planos para casar ou a falta de planos para casar é que causa infelicidade?). Esta direccionalidade pode ser estatisticamente avaliada na presença dos dados (ou pelo menos qual parece ser mais provável).

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  4. 1. Caro terceiro comentador,

    "De facto a mim não me parece nada surpreendente que numa relação mais fácil de terminar haja de facto mais terminações do que numa mais difícil.

    O que há para discordar de facto é a direção das associações causais (a infelicidade causa falta de planos para casar ou a falta de planos para casar é que causa infelicidade?)."

    Concordo! Foi precisamente isso que em parte procurei expressar. Embora, porventura, não tenha sido tão claro! Obrigado!

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  5. "Caro" Zé Maria,

    Primeiro quero esclarecer que a crítica não era propriamente dirigida a ti, mas ao autor original do texto!

    A mim parece-me que o texto dá a entender que viver junto antes do casamento, é uma má opção. E baseia a sua argumentação nalguns dados estatísticos apelando, de forma muito abstrata, à autoridade da Ciência (um velho truque de retórica). É nesse sentido que no texto se "procura provar" algo. Creio que a escolha do título, e das passagens sublinhadas a bold não são inocentes ou aleatórias, pelo que, embora acredite que tu não quisesses "provar" nada (o autor original talvez quisesse), não concordo que tenhas vindo apenas "constatar factos".

    Não refutei propriamente as conclusões, mas a base argumentativa estatística e demonstrei-o racionalmente e não propriamente com juízos de valor. O que digo é que não se pode concluir apenas a partir daqueles números o que se quer concluir. E foi isso que procurei provar; mais nada. Não tenho de apresentar mais nada para provar o que não tentei provar, se é que me faço entender.
    Alías, consigo com base nos mesmos números argumentar que viver junto antes do casamento é bom, embora eu nem tenha opinião formada sobre o assunto!

    Por certo concordarás que não se pode confiar em tudo o que nos dizem ser "científico". Há que manter uma mente crítica "científica"! Existem estudos completamente contraditórios, antagónicos! Existem estudos errados (na metodológia, na interpretação, etc.)! Se não desconfiarmos de um artigo publicado em revista de prestígio, quando achamos que alguma coisa está mal, pelo menos desconfiemos quando essa informação é passada em "segunda ou terceira mão", que é o caso. Essa informação é recebida, interpretada, misturada, manipulada, etc. inconsciente-, às vezes conscientemente (principalmente na política) e depois passada numa "nova embalagem". "Quem conta um conto acrescenta um ponto". É que, face à incompletude de informação, um verdadeiro juízo de valor (i.e., com base num sistema particular de valores/crenças) poderá já ter sido feito antes, se não pelo próprio autor do texto, porventura pelo seu citador!

    Desculpa lá, não ter assinado à primeira, mas nem me lembrei, nem percebi que eras tu o autor do blog.

    Abraços,

    Zé H.

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